quarta-feira, 29 de junho de 2011

Airton Monte - Pastor Caninha - 15 Junho 2011

Airton  Monte - Pastor Caninha - 15 Junho 2011

Por experiência própria, pois fui uma das mais insaciáveis goelas da boemia alencarina, um voraz bebedor de cerveja em doses industriais, dos vinte aos sessenta anos(o que findou por me custar muito caro)sei o quanto a bebida é capaz de alterar o comportamento das pessoas para melhor ou para pior. Geralmente para pior, com toda segurança afirmo. Além do mais, quando se fica bêbado, nos tonamos o território do imprevisível e seja lá o que o diabo quiser. Claro, evidente que há quem fique manso, pacífico feito um monge tibetano, não fazendo mal nem à bebida que bebe. Cordial, afável, educado, gentil feito um lorde inglês. Alegre, jovial que nem um carnavalesco de escol, animando qualquer festa, qualquer ambiente por mais funéreo que seja. Contudo, há quem se torne raivoso, hidrofóbico, exalando agressividade por todos os poros, soltando seus demônios enfim libertos pra cima do primeiro que aparecer-lhe à frente, mesmo seu melhor amigo.

Acaso estiverem ao volante, transformam-se em possíveis assassinos, causadores das mais terríveis catástrofes no trânsito. Sãos os “motorristas”, uma explosiva mistura de motorista com terrorista. Outros restam desconfiados de tudo e de todos, uns verdadeiros, perigosos paranoicos. Os ciúmes lhes tomam a alma por qualquer dá cá aquela palha e suas mulheres são quem acabam pagando o pato, mesmo sem motivo. Alguns se deixam tomar por um súbito acesso de cava depressão, com choros incontidos, queixumes , lamúrias intermináveis, lamentando ainda estar vivo, fazendo a insuportável propaganda de que o suicídio lhes seria a melhor saída. Tais tristes etílicos baixam o astral daqueles que tiverem a suprema infelicidade de lhes ficar por perto. Isso sem falar nos inevitáveis chatos de galocha, que se tornam os donos do palavreado, não permitindo mais ninguém falar, contando piadas sem graça, cometendo peripécias daquelas de acabar até festa de debutante.

O álcool é uma droga bastante perigosa, talvez o mais ensandecedor de todos os baratos já craneados pela humanidade em sua busca incansável do prazer ou da fuga da tal de realidade. O Otacílio Perobão, de quem já contei algumas aventuras, um gayzão de dois metros de altura por uns quatro de largura. Porém, quando toma umas biritas, vira um empedernido machão, capaz da suicida coragem de, num domingo de clássico, ir para o meio da torcida do Ceará, todo maquiado, fantasiado de Carmem Miranda e, ainda por cima, em desafio ousadíssimo, envergando o glorioso manto do meu, do seu, do nosso mui amado Tricolor de Aço. Ah, quão insondáveis são os mistérios da humana alma, que não existe nesse mundo aquele que de todo os decifre. Nem o próprio e célebre Doutor Freud conseguiu realizar tal façanha. Quanto mais eu, modesto cronista de jornal, teria a desfaçatez de tentar.

Entanto, ultimamente, meu compadre Chico Newton anda me causando impensáveis preocupações devido a sua conduta que considero pra lá de estranha, quando ele enche a caveira de cachaça. Nada a ver com a área sexual, é claro, graças ao bom Deus. O problema se dá somente quando o fraterno amigo se embriaga até os gorgomilhos. Ao encontrar-se em estado etílico, o gentilandino Paxá pegou a mania esquisita de começar a distribuir conselhos e lições de moral a torto e a direito, espalhando constrangimento generalizado pelos bares que costuma frequentar. Lê a bíblica palavra em voz alta, declama salmos, recita evangelhos, vocifera irritadamente contra os demais biriteiros e quanto mais entorna, mais inflama a sua oratória moralista. Aos polígamos, chega ao cúmulo de prometer as profundas dos infernos. Logo ele, dotado de um sortido harém de seis esposas teúdas e manteúdas. Ganhou merecidamente o apelido galhofeiro de Pastor Caninha, com a ideia fixa de acabar com a cachaça no mundo bebendo todas, numa mistura de pastor e ovelha negra.

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