quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Airton Monte - Pátria Minha - 9 de Setembro 2011

Airton Monte - Pátria Minha - 9 de Setembro 2011

Claro que eu bem sei que já é tarde e atrasado escrever, falar a respeito daquela que aprendemos, desde a mais tenra idade, ser a data magna da brasílica História. Acontece que, talvez por ser um mau patriota, quase me passou despercebido o não tão festejado dia da Independência do Brasil, quando nos tornamos, enfim, uma nação não tanto independente de Portugal. Pois é. O Sete de Setembro, para muitos brasileiros, não teve maior significado do que o aguardado início de mais um feriadão, dos inúmeros que povoam o nosso pátrio calendário. Até posso estar redondamente enganado em minha pessimista opinião, mas sinceramente vejo-me obrigado a constatar que para nossa festeira tribo tupiniquim, o Sete de Setembro foi, pouco a pouco, perdendo o seu real sentido.

Diferentemente de outros países e de outros povos, não comparecemos em massa ao desfile das Forças Armadas e dos estudantes marchando garbosamente diante dos palanques das autoridades, que ficam cheios de políticos enquanto grande parte das ruas fica praticamente vazia feito um amontoado de bocas banguelas. As pessoas não se vestem orgulhosamente de verdeamarelo. A bandeira nacional não tremula na frente das casas nem nas janelas e varandas dos apartamentos. O Sete de Setembro é como se não fosse. O dia de nossa Independência torna-se apenas uma mera desculpa para beber e festejar a longa folga do trabalho e dos estudos.

Será realmente um fato por demais incontestável que o patriotismo dos brasileiros somente nasce, brote, floresce, desabroche de quatro em quatro anos durante a Copa do Mundo? Quando as cores nacionais enfeitam esta Taba de Tupã do Oiapoque ao Chuí? Acho que nem mais tamanho e tradicional fervor patriótico acontece como acontecia dantes neste patético e imprevisível Quartel de Abrantes. Também, não é para menos, pois muito tempo faz que a nossa amada seleção se nega a dar-nos a alegria de uma conquista por mais chinfrim que seja, se distanciando cada vez mais do coração do povo. Do meu, inclusive. Além do que, pra piorar a situação, se já somos um povo desprovido de memória, nossa histórica amnésia está ficando cada vez pior. Nossos heróis pátrios vão sendo gradativamente esquecidos geração após geração e se tornando uns ilustres desconhecidos, como se nunca houvessem existido. Um país sem memória é um país sem identidade própria.

E assim, desmemoriados, tendemos a nos tornar um simulacro triste de nós mesmos. Chego a pensar que nosso nacionalismo é de fancaria e que não amamos o Brasil como devíamos naturalmente amá-lo. Quem sabe, porque pensamos que o Brasil não nos ame tal qual o merecemos. Todavia, temos orgulho do nosso famoso e popularíssimo “jeitinho brasileiro”, que sempre quebra o nosso galho quando dele precisamos e que se dane a ética, uma palavra quase riscada do nosso dicionário, infelizmente. Muitos de nós ainda creem que o futuro do Brasil é como filho de mulher estéril: jamais chega. Muitos de nós, embora neguem com veemência, têm vergonha do Brasil e de ser brasileiros. Querem ser tudo, menos brasileiros. Muitos de nós costumam fazer piada com a expressão “Brasil, país do futuro”. Mal sabem ou olvidam que esse futuro já chegou.

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