quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Airton Monte - Celebração - 11 de Novembro 11

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Um dia. Um belo dia. Não é apenas um dia a mais derramado pela ampulheta inefável do tempo. É mais um dia em que, ao abrir os olhos, verifico que estou vivo e estar vivo, para mim, é uma grande e maravilhosa vitória, não importa o que ocorrer de bom ou de ruim durante o seu transcorrer. Abro, escancaro de par em par a janela até então fechada do meu quarto de dormir, ergo os olhos para o céu como se o estivesse vendo pela vez primeira, como se fizesse uma magnífica descoberta. Sim, nada melhor do que estar ainda vivo em um novo dia que nasce e me é ofertado feito uma generosa dádiva da natureza. Sei que a maioria dos meus semelhantes acha bastante natural despertar após a passagem da noite e simplesmente continuar vivendo. Parecem não pensar no fato de que são felizes sobreviventes e que muitos devem haver morrido ontem e nunca mais verão mais um dia surgir no horizonte de nossa frágil existência.

Penso que amanhecer vivo trata-se de um verdadeiro milagre para todos nós que hoje abrimos os olhos e continuamos partícipes sortudos dos movimentos habituais do mundo, mesmo considerando a realidade de que somos minúsculas partículas de um infinito universo que rodeia esta pra lá de insignificante bolota de barro que, por enquanto, continuamos a habitar. Agradeço penhoradamente a bênção de existir porque não existe nada mais belo do que a vida. Talvez eu assim pense porque já vivi mais da metade da minha e o implacável relógio de Cronos há muito já deixou de correr a meu favor. Porém, o que me interessa isso? O importante mesmo é estar sentindo o pulsar da vida dentro de mim nesse dia recém-nascido e que posso ter a bendita graça de desfrutar. Que seja benvindo este novo dia, pois faço questão de recebê-lo, de saudá-lo com toda a pompa e circunstância de que é merecedor.

Outros podem não ligar a mínima para o ilustre visitante e achar que as coisas são desse jeito mesmo e podem ser tolamente simplificadas, reduzidas numa única frase: quem está vivo está vivo, quem está morto está morto. E pronto, ponto final, nada mais a acrescentar. Enganam-se redondamente, pois quem está vivo é um felizardo, ganhou o prêmio maior na loteria do acaso, pois bem poderia ter se mudado repentinamente para a indesejável, porém inexorável cidade dos pés juntos e encontrar-se nesse momento comendo capim pela raiz com a boca cheia de formiga. Parecem nem se dar conta de eu já nascemos condenados à morte e ser ceifado pela Bela Dama Sem Piedade trata-se somente de uma questão de tempo. Portanto, estar vivo há que ser comemorado a cada dia que testemunhamos, como se fizéssemos aniversário a cada vinte e quatro horas que permanecemos neste mundo, quer estejamos felizes ou infelizes.

Pensando bem, talvez eu esteja mergulhado na euforia da celebração da vida, tentando escrever uma ode capenga em seu louvor, por hoje ser Dia de Finados. Logo mais, os campos santos estarão cheios de gente visitando seus entes amados que já encetaram a longa viagem sem retorno para os desconhecidos territórios do além. Levarão braçadas de flores e de saudades aos que jazem no eterno repouso das tumbas. Como de habitual, não farei minha romaria aos túmulos de meu pai e de minha mãe. Sofro de uma incurável ojeriza a cemitérios e todas as vezes em que me arrisquei nestes passeios mórbidos, voltei pra casa cheio até a tampa de uma cava tristeza. Por isso, decidi fazer de um verso de Drummond meu lema particular gravado com todo amor de que sou capaz no porta-estandarte do meu coração: “Do lado esquerdo carrego meus mortos, por isso ando um pouco de banda”. Os meus mortos estão para sempre vivos no relicário sagrado de minhas mais felizes recordações.

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