quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Crônica: Epitáfio e Pecúlio - 15 de Janeiro 2015


A morte quase sempre nos pega sem esperar e eis que de repente chega a notícia de falecimento de um ou outro conhecido, amigo, parente ou vizinho. Ontem eu fui acompanhar um funeral de um morador cujo tugúrio se avizinha ao  meu, senti-me na obrigação de  cumprir esse ato de piedade cristã, inevitável não acompanhar o cortejo fúnebre até o campo santo.Tudo é estranho nessa nossa vida, pois até ontem o defunto ( que a essa hora ainda não era um) fazia planos e mais planos para o futuro. Falava em projeções, projetava empreendimentos, viagens, outros planos a longo prazo.
Eis que o cortejo segue,  o sepultamento foi no meio da tarde, tarde de sol dentre tantas tardes de sol ocorridas na existência daquele homem agora morto.A procissão dos que acompanhavam o caminho do cemitério, era feita em meio a ladainhas e jaculatórias. No cortejo quase todas as pessoas trajavam roupas pretas, apesar do calor daquela hora da tarde, homens sisudos e mulheres lacrimosas. O conglomerado caminhava unido, em cada pensamento dos ali presentes, pairavam dúvidas e incertezas quanto a instituição da morte. Todos ali, por um momento, pensavam em suas mortes. A marcha continua, o ataúde vai a frente liderando os passos de todos rumo ao campo santo.
Finda a cerimônia resolvi percorrer as ruas do cemitério em busca de túmulos de parentes e ou amigos. A ausência prolongada de minhas estadas por esse ambiente fez com que aumentasse a dificuldade em encontrar tais catacumbas, nessa busca encontrei vários túmulos, dos mais variados tipos, uns mais bem erigidos arquitetonicamente, outros modestos, quase sem identificação de nome ou fé, somente as inicias de cada nome e uma modesta cruz,  me detive entre tantos eles, fiz orações em outros, desconhecidos ou nem tanto, colhi epitáfios, fiz reflexões sobre tais frases e lembrei que eu ainda não tinha nenhum epitáfio para  por sobre minha laje. Divaguei sobre tal fato e estranhei por  ser este meu único bem a ser deixado em testamento , um epitáfio, este será meu único pecúlio deixado em testamento cartorial! Ilusão minha.  Seria mesmo necessária uma frase de efeito para por sobre minha lápide? A quem poderia interessar? Nem mesmo um visitante desavisado ao cemitério se interessaria por isso.  Ora, se ninguém nunca se interessou nem pelos meus quatro sonetos alexandrinos que sempre divulguei na mesas de bares que perambulei, por que iam se interessar por uma frase escrita sobre um lápide de cemitério? É muita inocência crer em tais circunstâncias.

  

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