quarta-feira, 29 de julho de 2015

Crônica - Antes de P e B - 29 de Julho 2015

                                  Crônica - Antes de P e B - 29 de Julho 2015



Costumeiramente recebemos visitas nas manhãs de segunda a sábado ou de segunda a segunda , o ponteiro do relógio marca dez horas  perfazendo no arco menor um ângulo de setenta e dois graus.Até o momento, não recebemos nenhuma dessas previsíveis visitas. No vazio da sala onde leio  um livro de contos de um escritor local, ponho a brochura  de lado momentaneamente para outros afazeres inúteis. Abro o “livro de notas” e vou verificar meu correio eletrônico esperando alguma mensagem significativa. Em meio a um sem número de mensagens insignificantes de correntes espirituais e outras menos votadas, me deparo com uma no mínimo burlesca - Uma oferta, uma pechincha, na linguagem do vendedor da mensagem, apartamentos  novos que estão sendo construídos ( ou já estão prontos, não lembro bem!) . No reclame, o vendilhão aponta um preço cujo valor representa a soma de uma vida inteira de numerários do meu modesto sal, ora, logo eu um simplório amanuense que não consegue nem quitar algumas letras de baixo valor vencidas a tempos ! Brincadeira tem hora!
Eis que chega o primeiro visitante ao receptivo tugúrio, trata-se de uma diarista que mora do outro lado da urbe, chega com a tez tostada do tórrido sol do meio da manhã, sem disfarces ela afirma ter vindo de um “centro espírita” que fica por trás do mercado público. Ela troca vários diálogos ininteligíveis com a empregada da casa vizinha que a essa hora aproveita os momentos de ócio da faina do lar de nossa vizinha solteirona. Depois de uma hora após a primeira visita, passaram um sem número de pessoas pousar a sombra do alpendre  de nossa choupana. Um vendedor de vassouras que gritava seu pregão a plenos pulmões, o vendedor de bilhetes de loterias, a anã que mora no fim da rua deu o ar de sua graça por estas paragens com suas estórias repetidas de sempre, ainda um gari gazeando a hora de trabalho dá os bons dias aos que aqui estão. Dentre estes  personagens vários, aparece uma senhora que costumeiramente passava por ali, já anda por seus setenta e poucos anos,  celibatária convicta,  a saudosista mulher contava causos do seu tempo de aluna interna no grupo escolar de sua cidade, citava ela  namoricos, artes juvenis do seu tempo, e comparava com os da geração atual. Outra matrona, pegando o gancho na prosa da outra, lembrava de situações cognitivas, falava ela de regras ortográficas, lembrando ter aprendido que antes das letras pê e bê se deve usar única e exclusivamente a letra ême.
As horas correm, o sol está a pino, os ponteiros do relógio estão próximos de se juntarem a formar a hora grande. Nesta  rua solitária só alguns redemoinhos de vento mudam a paisagem erma da rua de pedra tosca. Volto ao livro que lia até bem pouco tempo e sou interrompido um instante por minha mãe que convoca toda prole para o repasto  sagrado do dia a dia. É hora do almoço.


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